O MVP é suficiente? Qual é o seu produto mínimo?
Muitas siglas, muitos tipos, muitos impactos na usabilidade, precisamos entender qual produto mínimo faz sentido para a solução, o usuário e o momento da sua empresa.
Os usuários raramente desejam uma solução em específico, a menos que exista uma necessidade aguda que seja perceptível e crie a compreensão de que algo é necessário.
É super importante ter a capacidade de definir qual é o valor que realmente precisamos entregar, para que haja um alinhamento entre as expectativas da empresa e a percepção do usuário em relação ao valor a ser entregue.
Pensando em uma estrutura ágil, a metodologia mais popular entre as empresas atualmente, entender o que pode e precisa ser construído em um curto espaço de tempo com assertividade é a maior chave para progredir, implementar o produto/serviço e obter feedback direto do usuário de forma rápida.
Produto mínimo é uma estratégia!
Um dos maiores erros que vejo em muitas empresas é o comportamento de não validar a ideia ou conceito de valor percebido pelo o público e já sair montando as especificações do MVP de acordo com achismos.
As especificações sobre o tipo de construção precisam ser baseadas em conhecimento prévio dos interesses do usuário por meio de dados quali e quanti. Só quando houver uma visão mais clara destes dados, que será possível fazer a escolha estratégica de qual tipo de produto mínimo será escolhido para ser desenvolvido de forma alinhada aos objetivos da empresa.
Lembre-se: O core mínimo de um produto depende muito da estratégia escolhida e das características de comportamento e interesses do seu usuário.
E é aí que entram as muitas de siglas que o mercado usa atualmente, neste artigo vamos ver apenas as que eu já tive experiência em criar junto a diferentes times para diferentes soluções: MVP, MMP, MUP e MLP. Mas saiba que existem outras e vale a pena pesquisar um pouquinho mais, caso nenhuma dessas acima se encaixem no que você precisa.
MVP — Minimum Viable Product
MVP, o que é viável em relação a produção do core mínimo do produto, capaz de permitir que a equipe por traz da solução entenda melhor e aprenda com o produto. É uma das formas de produto mais conhecidas, o que não quer dizer seja bem empregada no mercado geral.
[…] a versão de um novo produto que permite que uma equipe colete a quantidade máxima de aprendizado validado sobre clientes com o mínimo de esforço. — Eric Ries , empresário e autor de The Lean Startup
IMPORTANTE: Em nenhum momento falei que o MVP é a versão 1.0 do seu produto, ele é um experimento para validação no mercado real, com usuários reais em contextos de necessidade reais, que pode ser totalmente descartado caso as validações mostrem que este não é um interesse do usuário.
O produto mínimo viável tem como principal característica entregar uma proposta funcional para ser validada:
- Mínimo: Não construa nada que não esteja dentro das suas metas de aprendizado. O que eu preciso aprender mais, é o que irei construir.
- Viável: Trabalhe com o CORE de valor a ser entregue e não perca tempo desenvolvendo extras. Sabe aquelas ideias muito legais e totalmente complementares? Agora não é o momento para elas.
- Produto: O que será entregue e o que pretende ter feedbacks/aprendizados sobre.
A intenção do MVP é validar e testar suposições dentro de uma régua de risco previamente validada no discovery para aprender, sanar dúvidas e, muitas vezes, criar outras hipóteses de valor que não foram identificadas nos estudos de UX Research, com mínimo esforço possível do time, maior agilidade e viabilidade.
Algumas vantagens do MVP:
- Validação de conceito da solução pelo mercado real
- Baixo custo e alta velocidade no desenvolvimento da solução
- Coleta de dados para conhecer as necessidades dos usuários
- Ter conhecimento embasado em dados para definir implementações e melhorias na solução
- Possibilidade de atrair investidores sem muito esforço
- Criar uma base de usuários que podem se tornar “fãs” e promotores do seu produto no futuro
MUP — Minimum Usable Product
O ponto mais importante que devemos aprender sobre MUP é o fato de que ele não é a mesma coisa do MVP!
Repita comigo:
MUP não é a mesma coisa que MVP!
MUP não é a mesma coisa que MVP!
MUP não é a mesma coisa que MVP!
Os conceitos nos mostram momentos diferentes da evolução da solução, ou seja, no MVP ainda estamos tentando entender as necessidades do usuário em relação a nossa proposta de valor. Enquanto, no MUP já temos conhecimento das necessidades do nosso usuário e sabemos qual a percepção de valor dele em relação a nossa solução.
Sendo assim, o objetivo de um MUP é construir uma funcionalidade mínima que permita atender as necessidades já mapeadas do usuário final. E não basta mapearmos apenas as necessidades do usuário central, temos de ter em mente também as necessidades dos usuários secundários. Por exemplo:
- Como usuário prospect, quero ver uma landing page para saber o que o produto faz
- Como usuário corporativo quero ver a Política de Privacidade
- Como usuário principal é importante eu ter acesso rápido aos Termos e Condições
Alguns pontos positivos do MUP:
- Entrega proposta de valor clara para o usuário
- Constrói entendimento sobre as áreas de atrito com o usuário
- Pode ser considerado como um pequeno lançamento
- Pode construir mercado voltado para a sua solução
- É preciso conhecer informações adicionais sobre o mercado
- Precisa ser utilizável, com features que atendam as necessidades do usuário
MMP — Minimum Marketable Product
Com informações suficientes do mercado, que podem ter sido descobertas por meio de vários MVPs ou validações prévias, é possível entender e identificar o valor percebido da sua solução, ou seja, quanto o usuário está disposto a pagar. Tendo este entendimento é possível estruturar um MMP, um produto mínimo que tenha valor agregado suficiente para ser comercializado, transformando usuários em clientes.
“Nenhum plano sobrevive ao primeiro contato com os clientes.” — Steve Blank
A palavra-chave do MMP é COMERCIALIZÁVEL, assim como o MVP ele precisa ter um conjunto básico dos recursos, que atenda de forma clara as necessidades dos usuários. Neste momento não estamos falando de grandes lançamentos, muitas vezes o MMP se inicia com um público mais definido, os testers ou betas, e a escalabilidade ocorre de acordo com a evolução e recepção da solução.
MLP — Minimum Loveable Product
Agora você pode me perguntar: E se eu já tiver um produto estabelecido no mercado ou nenhum dos outros produtos mínimos se encaixarem no momento da minha solução?
Neste caso, de alguma forma você já passou pela fase de validar a sua solução, já identificou as necessidades de usabilidade e o potencial financeiro do produto. Mas será que ele encanta as pessoas? Este pode ser o momento para pensar em um MLP, ou seja, um produto que seja amado/adorado imediatamente.
O grande diferencial do MLP é que ele consegue concentrar os recursos mais importantes para os usuários, fazendo com que eles fiquem mais felizes e por consequência se tornem mais engajados, interessados e promotores da marca, tendo a sensação de que fazem parte e são responsáveis pelo crescimento da solução e se beneficiam disto. Este é o momento em que nós designers, precisamos trabalhar a nossa empatia ao máximo, para entender quais os sentimentos dos usuários durante o uso da solução e quais os seus desejos para a evolução da mesma.
O termo “Minimum Loveable Product” foi primeiramente usado por Henrik Kniberg em 2013 no contexto de desenvolvimento de produtos no Spotify, e ele dizia:
“Talvez um termo melhor seja Produto Mínimo Adorável. Uma bicicleta é adorável e útil para alguém sem meios de transporte melhores, mas ainda está muito longe da motocicleta em que ela evoluirá.” — Henrik Kniberg
Ou seja, não é sobre onde a solução pode chegar ou quão “completa” ela é, mas o quanto ela pode encantar o usuário no momento em que ela está, gerando uma sensação extremamente positiva, como diz Laurence McCahill, co-fundador da The Startup School:
“Fornecer uma solução que seja tão extraordinária na dimensão mais importante que inspire emoções positivas em seus clientes” — Laurence McCahill
Como os outros produtos mínimos, o MLP entrega uma fração do produto completo, mas numa visão um pouco diferente do MVP, veja abaixo:
Alguns pontos importantes sobre MLP:
- Criar um MLP provavelmente levará mais tempo do que criar um MVP.
- O custo de um MLP pode ser maior por conta do esforço e tempo necessários para um bom desenvolvimento
- Com o MLP é mais simples se conectar emocionalmente com os seus primeiros usuários
- Seus usuários provavelmente se tornarão promotores do produto
- MLP é sobre emoção!
Combinando e/ou escolhendo os conceitos
Um conceito pode ser visto como uma evolução do outro, então uma construção de MVP pode servir para validar o caminho escolhido, enquanto a próxima etapa pode ser entregar valores de MUP até chegar em um MMP que se torne um MLP.
Isso é totalmente possível e direciona os objetivos da evolução do produto, mas o mais importante é entender o momento do seu produto com os seus usuários.Os usuários enxergam valor em um produto quando eles realmente precisam dele e atende a uma necessidade aguda do seu dia-a-dia.
Outro ponto importante que não podemos esquecer é que o ciclo do produto precisa ser direcionado por meio da iteração e implementação de melhorias, sendo de extrema importância entendermos que qualquer produto mínimo é uma evolução constante que gera valor e seja aplicável no dia-a-dia do usuário.
Como podemos ver acima, o ciclo de criação e desenvolvimento de um produto mínimo não difere do ciclo natural de design de produtos. Passando pelas fases do Design Thinking até a prototipação do produto, que se une ao Lean UX para rápida validação, captação de feedbacks e iteração para enfim chegar ao Agile com o desenvolvimento da versão beta e seu momento de iteração mais profunda com o público.
Abaixo uma tabela com definições básicas dos tipos de produtos mínimo e suas principais características:
Concluindo, desenvolver um produto digital é algo complexo e cheio de incertezas. Quanto maior for a sua maturidade e do seu time em criar soluções, mais vocês perceberão que ao aplicar metodologias voltadas para o usuário e estratégicas para o negócio, maiores serão as chances de sucesso e, assim, será possível atingir maiores níveis de excelência e sucesso.
Referências
- MVP (Viable), MUP (Usable), MMP (Marketable), MLP (Loveable), MSP (Sellable) — What’s Your Minimum Product
- MLP vs MVP vs MMP/MSP: Comparison and Main Differences
- Your Guide to MVP, MMP, MLP, MDP and MAP Startup Stages
- Do MVP ao MLP: o que está em jogo?
- MVPxMUPxMMP: What is the Best Choice To Implement Your Ideas?
- Things you should know about MVP, MLP, and MUP
Obrigada pela leitura!
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